segunda-feira, 23 de julho de 2012

Matadouro 5 ou A cruzada das crianças

Matadouro Cinco ou a Cruzada das Crianças

Autor: Kurt Vonnegut
Data de Publicação: 1990
Editora: Editorial Caminho
Páginas: 195
ISBN: 9722105361

Sinopse

Matadouro 5, obra-prima do norte-americano Kurt Vonnegut, conta a tentativa de um ex-soldado americano que lutou na Segunda Guerra Mundial e que assistiu ao bombardeio da cidade de Dresden de escrever sobre a experiência da guerra. O personagem por ele criado, Billy Pilgrim, é um americano bem de vida e interiorano que viaja no tempo, para outros planetas, e revisita diversos momentos da sua própria vida – sendo o ponto crucial da sua existência o episódio em que foi feito prisioneiro durante a Segunda Guerra, quando vivenciou o bombardeio da cidade alemã, em que morreram 135 mil pessoas – o dobro de mortes causadas pela bomba de Hiroshima.


O resultado desta inusitada história é uma narrativa inigualável, fantasiosa, sarcástica, engraçada, satírica, irónica, triste e cheia de sentido. Publicado primeiramente em 1969, em plena Guerra do Vietnã, Matadouro 5 foi classificado pelo conselho editorial da Modern Library como um dos 20 melhores romances em língua inglesa do século XX. Embora seja conhecido como um dos principais romances norte-americanos anti-guerra, nele Vonnegut oferece muito mais do que um libelo pacifista. Trata-se de crítica social da mais criativa, inclassificável e actual, da expressão de uma visão de mundo ingénua e desencantada ao mesmo tempo.


Para mim, esta obra tem uma das definições de viagens no tempo mais interessante e original que li. Usualmente nas viagens do tempo, o viajante pode-se encontrar "consigo mesmo", pode alterar todo o futuro ao pisar uma mosca, ou pode dar saltos temporais de centenas de anos. No matadouro 5 as viagens temporais são feitas durante o espaço temporal da vida da personagem, Billy salta entre os vários episódios da sua vida, adormecendo por vezes no campo de prisioneiros alemão e acordando numa viagem de avião que efectua 25 anos depois com o sogro. Billy tem a noção destes saltos e sabe em cada momento o que aconteceu/acontecerá, mas não tem por isso intenções de alterar os acontecimentos, vive-os apenas. Assim como Billy não teme a morte, porque como ele diz, morrera e vivera outros momentos inúmeras vezes, infinitamente.
Poderá ser um conceito estranho mas que torna a narrativa simplesmente fantástica, então imaginem, assim que começamos a narrativa, Billy diz-nos que sobrevivera ao ataque aéreo de Dresden, conta-nos quem morrera fuzilado e onde, assim como a meio do livro assistimos à morte de Billy, etc. etc. A ordem dos acontecimentos não tem a sequência temporal comum, mas apenas as dos saltos de Billy. Está muito bem escrito.

Para além disto o sentido de humor com que a história nos é contada chega a ser irreal, tudo nos é apresentado como um facto da vida, algo que não é possível mudar, daí o autor estar constantemente a repetir-se com o "Assim foi"/"É a vida". É por isso curioso e chocante ver como Billy aceita todos as injustiças e azares que lhe acontecem, mas que ao mesmo tempo o salvam de morrer mais cedo. Isto porque ele já sabe como é que as coisas irão acontecer, porque já "lá" esteve ou já as viveu antes.

Adorei. Bem escrito, personagens fantásticas e um sentido de humor negro mas delicioso.

Nota: Os momentos "históricos" são também muito interessantes. Ficamos a saber que no ataque a Dresden morrem cerca de 100.000 pessoas, a maioria civis, ou seja, morreram mais pessoas neste ataque aéreo Americano (mais uma vez) do que em Hiroshima.


Sem comentários: